Milena Haesbaert recicla cascas de coco e cria utensílios sustentáveis!
Nascida em Juazeiro, município da Bahia, a modelo Milena Haesbaert (@mihaesbaert), de 40 anos, tem se dedicado à uma causa nobre: há três anos, pilota uma iniciativa socioambiental que transforma cascas de coco em utensílios sustentáveis para casa e decoração.
Batizado “Studio Coco” (@studiococooficial), o projeto recicla mais de 2.000 unidades de cascas da fruta todos os meses, transformando-as em pratos, bowls e velas, que têm feito sucesso no circuito gastronômico e decorativo. Fundada em 2019, a iniciativa tem beneficiado pequenos produtores da cidade de Pindorama, no sul de Alagoas: “as cooperativas têm neste trabalho artesanal uma forma adicional para gerar renda aos moradores locais”, afirma. Atuando como modelo desde 1998, Milena Haesbaert já trabalhou em disputados mercados como Itália, França e Alemanha, além dos Estados Unidos – onde morou por mais de quatorze anos.
Há três, mudou-se para São Paulo, onde concilia a carreira fashion com a empreitada sustentável: “antes de fazermos a reciclagem, estas cascas de coco eram queimadas, como fonte de energia para usinas – algo nocivo ao meio-ambiente, já que a queima gera grande carga de CO2 e metano”, reflete. Através da Studio Coco, dezenas de operários de associações regionais têm acesso à remuneração e treinamento profissional – o que permitiu a muitos aprendizes tornarem-se artesãos.O processo de produção é iniciado na seleção do coco seco, feita de forma artesanal, por produtores que identificam “a olho” a anatomia correta das cascas. Depois, seguem para o atelier do projeto, onde passam pelos processos de esterilização, corte, despolpa e polimento.
Ao término, as peças são hidratadas com o próprio óleo retirado do coco: “todo o processo é completamente livre de substâncias nocivas e nada é desperdiçado. Nosso foco é valorizar o artesanal e o produto natural, introduzindo a natureza às mesas, através de um trabalho ético, responsável, sustentável e que gere renda adicional aos artesãos das comunidades”, afirma.O resultado final são utensílios extremamente resistentes, de fácil lavagem, belos e, sobretudo, com responsabilidade ecológica e social: “são os bowls e pratos mais sustentáveis do mercado. Do começo ao fim, o processo de produção é 100% natural – e as peças podem retornar à natureza, sem agredi-la”, finaliza.
Em entrevista exclusiva para o Pluminews ela completa sua história como empreendedora:
Como surgiu a ideia da empresa?
Eu estava em uma fase da vida onde queria muito achar algo novo para mim como profissão. Também sempre fui adepta a novas ideias ou desafios de vida. Já trabalhei com “real-estate” nos EUA por uns anos entre a carreira de modelo e tenho uma pegada ambientalista na veia, que vem de família. A ideia de fazer algo profissional por um “mundo melhor” também sempre me chamou a atenção. Juntar arte com geração de empregos e educação ambiental me pareceu um bom “norte” naquela fase de procura. Quando vi, me deparei com a ideia de fazer um bowl para mim mesma que eu tinha visto em uma foto na internet. Saí com um coco debaixo do braço do parque Ibirapuera achando que de lá eu poderia fazer algo do estilo…
Entendi, horas depois, que existe o coco verde e existe o coco seco. Algumas ligações e, dias depois, eu estava no Ceasa escolhendo a dedo alguns nos caminhões que chegam lá. Voltei com 10 no carro e levei direto a um marceneiro na frente de casa, pedi pra ele cortar pra mim exatamente naquela altura que eu queria, despolpei e, dali, saiu o primeiríssimo bowl de coco que fiz.A aventura que prosseguiu foi em estudo de maquinário, adaptações, pesquisas de material, tempo de fabricação e acabamento. Até hoje, eu não parei de estudar. Isso faz três anos.
Como foi que você conheceu o processo de reciclagem da casca de coco?
“Como despolpar o coco mais facilmente” foi minha pesquisa no Google. Existiram várias tentativas frustradas de como despolpar um coco com mais facilidade, sem danificar a casca. Nada dava certo e, cada vez que eu tinha que despolpar 20 a 30 para treino nas lixas, eu machucava as mãos, demorava muito…não era nada divertido. Na pesquisa no Google, achei um vídeo de uma entrevista de um membro da Cooperativa Pindorama, explicando sobre a produção de produtos derivados da polpa do coco. Eles tiravam a polpa daquela casca cortada ao meio, como se fosse manteiga. Fiquei boquiaberta, vendo como retiravam e a quantidade de casca de coco que lá existia. Também existia um setor de artesanato, o que me empolgou em conhecer ainda mais! Acho que dois ou três e-mails e umas duas ou três ligações depois, eu estava embarcando para Alagoas, para conhecer pessoalmente a cooperativa com 5 bowls de cocos na mochila para mostrar a eles.
Desde meu primeiro coco, eu sabia que a empresa só daria certo se fossem vendidos em grande escala. A pegada é reciclagem – e quanto mais reciclamos, melhor para todos e para a natureza. Ensinei a técnica para meu time de Alagoas, virei professora de lixar coco! Uni Alagoas – São Paulo, trabalhei na criação do website, logística, estoque, laser, terceirização de velas, lancei o site e, hoje, ando com uma caixa de amostra dos produtos no carro, pois tenho uma reunião atrás da outra, em São Paulo, posicionando a marca. É um produto inovador, então quando veem as peças pessoalmente, as pessoas amam. Foi e está sendo um desafio enorme.
Qual o impacto social que a empresa tem na comunidade em que está inserida?
Já impactei profissionalmente um pequeno time de oito artesãos, entre outros ligados a parte precedente ao nosso atelier, como pequenos produtores e staff do campo. Os bowls têm que ter um formato específico naturalmente para serem trabalhados. Essa seleção é feita a olho por eles. Minha ideia é aumentar o número de máquinas e mão de obra. Espero que aconteça. 🙂
Quais são os projetos de crescimento da empresa?
Vários! Tenho várias novas ideias que quero pôr em prática. Tudo ligado a reciclagem, ao Upcycling, dando um destino melhor a materiais naturais descartados como lixo, gerando renda à comunidade local e, com certeza, investindo em educação ambiental que precisamos tanto. Cada vez que viajo, vejo a devastação que foi aplicada às florestas que lá um dia existiam e é de doer o coração. Vemos hoje nos jornais a natureza “reivindicando” seu espaço de volta, com chuvas torrenciais e nenhuma árvore de pé para sugar aquelas águas…destrói casas e lares e essas são as consequências de nossas atitudes como um planeta só! Precisamos de educação ambiental, se quisermos viver em paz como um todo.
Novos produtos aparecem seguidamente para mim em reuniões, um leque enorme de produtos que poderíamos oferecer e fabricar no Brasil, por isso não parei de estudar processos de fabricação até hoje. É só compartilharmos a informação, estrutura e acompanhamento corretos, que as coisas andam.
As peças são entregues em todo o Brasil e podem ser adquiridas por atacado ou varejo, através do e-commerce www.studiococo.com.br ou pelas redes sociais, no Instagram @studiococooficial.
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