Parlamentares reúnem-se no Chile em cúpula global contra a fome

Mais de 150 parlamentares, de cerca de 20 países, estarão reunidos até sexta-feira (16, em Valparaiso, Chile, na Segunda Cúpula Parlamentar Global contra a Fome e a Má Nutrição. O evento é organizado pelo Escritório Regional da Organização das Nações Unidas (ONU) para a Alimentação e a Agricultura (FAO – Food and Agriculture Organization) para a América Latina e o Caribe e ocorre na sede do Congresso Nacional chileno, em Valparaíso. 

Ao todo, a rede da Frente Parlamentar Global contra a Fome da América Latina e Caribe conta com mais de 400 legisladores e tem o apoio das Agências Espanhola e Mexicana de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (Aecid e Amexcid) e da Comissão Europeia. 

A FAO entende que os parlamentares são atores da mudança e podem desempenhar o papel-chave de criar leis e políticas para erradicar a fome, promover dietas saudáveis, proteger os recursos naturais, transformar os sistemas agrícolas para que sejam sustentáveis, eficientes, resilientes e inclusivos e reduzir a pobreza e as desigualdades socioeconômicas.

Mulheres são mais afetadas

Na cerimônia de abertura do encontro, nesta quinta-feira (15), o representante regional da FAO para a América Latina e o Caribe, o uruguaio Mario Lubetkin, apresentou o cenário atual do problema, no mundo, dizendo que houve “um aumento dramático nos números da fome”, atingindo 828 milhões de pessoas.  

Mario Lubetkin apontou as principais causas da fome: conflitos, ameaças climáticas, a pandemia de ovid-19, a desaceleração econômica, que pôs em risco o desenvolvimento das nações, e os aumentos de preços dos alimentos. “O aumento dos preços dos alimentos ao consumidor afetou o número de pessoas incapazes de ter acesso a uma dieta saudável, chegando a quase 3,1 bilhões”, afirmou Lubetkin.  

Segundo a FAO, as mulheres são as mais afetadas pela insegurança alimentar e pela fome. “A prevalência de insegurança alimentar moderada e grave aumentou durante a pandemia e afetou as oportunidades econômicas das mulheres.”

Na outra ponta da desnutrição, Lubetkin destacou que o sobrepeso e a obesidade são cada vez mais frequentes entre crianças, jovens e adultos e aumentam em todas as regiões do mundo, como consequência da má nutrição, com dietas não saudáveis. 

O representante da FAO alerta que já foi alcançada a metade do prazo para que o mundo consiga alcançar o segundo objetivo da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). A meta é acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhorar a nutrição e promover a agricultura sustentável, até 2030.  

“A fome zero e a erradicação da pobreza exigem a firme e efetiva participação de cada um de nós e a grande responsabilidade de elaborar leis que promovam um meio ambiente seguro, garantindo o direito à alimentação”, enfatiza Lubetkin. 

O anfitrião da Cúpula Parlamentar, o presidente do Chile, Gabriel Boric Font (foto), enfatizou que o desafio contra a fome não reconhece fronteiras. “Se houvesse apenas uma pessoa passando fome, já deveria ser escandaloso, mas são 828 milhões de pessoas e, portanto, esta questão é tremendamente importante”, afirmou Boric. 

Ao lamentar que a fome afete mais de 56 milhões de latino-americanos, o presidente chileno pediu união. “Nenhum esforço é menor ou secundário na luta contra a fome e na busca da segurança alimentar e da agricultura sustentável, conforme estabelecido no segundo dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da OMS, na Agenda 2030”. 

O líder chileno ainda apontou as guerras e os deslocamentos forçados de refugiados como agravantes da fome no mundo.

 “A agenda [2030] está ameaçada pela guerra, em qualquer latitude. Vemos os efeitos no nosso país [Chile] e no mundo pela exportação do trigo da Ucrânia. Sabemos que muitos outros países que vivem as dores da guerra sofrem imediatamente a fome A fome se exporta com muita facilidade e a vemos também dos fenômenos migratórios”. 

Foto: Fernando Ramirez/Pres.Chile

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