Não há começo e não há fim na Bienal de Arte de São Paulo, evento que começa nesta quarta-feira (6), no prédio da Bienal, no Parque Ibirapuera, na capital paulista. No ano em que adota como tema as Coreografias do Impossível, a Bienal deste ano propõe ao visitante que se movimente por entre os sons dos ambientes e dos objetos expostos, e que encare o tempo não como uma linha reta ou com destino definido, mas como um círculo de muitos inícios e retornos.
“As coreografias do impossível nos ajudam a perceber que, diariamente, encontramos estratégias que desafiam o impossível, e são essas estratégias e ferramentas para tornar o impossível possível que encontraremos nas obras dos artistas”, explicam os curadores em texto sobre esta edição da mostra.
35ª Bienal de Arte – Coreografias do Impossível, no Parque do Ibirapuera – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
É embalado por esses sons que permeiam várias salas e andares do prédio da Bienal, que o corpo vai se movimentar por entre 1,1 mil obras em exposição, criadas por 121 artistas, e que exploram os sentidos e discutem sobre as urgências do mundo.
“O som está sempre ligado ao movimento. Mas acho que, acima de tudo, uma das grandes bases do nosso pensamento é que a música é criada através do movimento no espaço. Ou seja, a forma como nós ritmamos e como atravessamos o espaço e o tempo é que cria a música”, explica Grada Kilomba, uma das curadoras da Bienal deste ano.
Grada ressalta que até mesmo a disposição dos objetos no espaço expositivo cria ritmos para essas coreografias que pretendem enfrentar as impossibilidades do mundo. “Nesse espaço da Bienal onde estamos, o som também está presente na coreografia dos objetos que estão suspensos no ar. Eles têm um ritmo para serem vistos, que são vistos em seguida e, depois, há uma pausa e, depois, há um crescendo, e a música aparece, mesmo sem ser audível. Isso para nós foi um conceito extremamente importante na expografia”, ressaltou.
Obra de Mounira Al Solth, na 35ª Bienal de Arte – Coreografias do Impossível – Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Essa profusão de sons, por exemplo, pode ser sentida na obra Floresta de Infinitos, criada por Ayrson Heráclito e Tiganá Santana e que convida o visitante a entrar em uma mata sagrada, povoada de vidas materiais, inanimadas ou ancestrais. “Discutindo sobre as nossas florestas interiores e também gritando pela preservação da natureza, a floresta é um labirinto de bambus, espelhos, ruídos, projeções e baixa iluminação. E que convida o público a coreografar por entre seus sons, cheiros e urgências”, dizem os artistas.
“Já vínhamos sonhando com nossas florestas internas e, a partir dessa obra, quisemos homenagear entidades antropomórficas e biomórficas que se extinguiram e que voltam, nessa floresta sonhada, como forças protetoras do que existe”, explicou Tiganá Santana, em entrevista à Agência Brasil.
“A ideia é que essa instalação toda reacenda essas florestas interiores, com os abismos e mistérios. Por isso ela é sinestésica e sensorial, para ativação do corpo. Ela não se pretende explicativa ou informativa. A ideia é que ela se comunique com os corpos diversos aqui. Que florestas as pessoas verão? Que ideia de natureza ou de morte ou de vida ou de encantamento as pessoas em contato com essa obra terão?”, explica o artista.
Assim como o tema dessa Bienal, essa floresta infinita cria diversas coreografias e não tem linearidade. “Acho que a reta não pertence bem à natureza. Acho que coreografar é isso, é serpentear a experiência de viver, de se espantar, de temer e de se encorajar”, avalia Tiganá Santana.
A ideia de movimento e de bailado contra as impossibilidades do mundo percorre toda a Bienal. O seu projeto arquitetônico e expográfico foi realizado pelo escritório Vão, que pensou em propor um novo fluxo para o visitante, no qual ele escolhe seu caminho e se torna protagonista de todo o processo. Com isso, o vão central do Pavilhão Ciccillo Matarazzo, da Bienal, será inteiramente fechado pela primeira vez na história. A ideia é que o visitante construa sua própria Bienal, desafiando o projeto arquitetônico de Oscar Niemeyer.
Coreografia coletiva
Como em uma coreografia, a Bienal deste ano propõe que os corpos dos visitantes se movimentem por esse espaço e que esse embalo seja feito de forma coletiva. Esse senso de coletividade já se inicia pela curadoria do evento que, pela primeira vez, é feita de forma compartilhada por quatro pessoas – Diane Lima, Grada Kilomba, Hélio Menezes e Manuel Borja-Villel -, sem a figura de um curador-chefe.
Essa coletividade se estende também entre obras e artistas selecionados e é uma forma de se combater os limites históricos, territoriais e coloniais que nos foram impostos, destacou Grada Kilomba.
Deixe seu comentário