A Argentina, conhecida por sua significativa presença na exportação de commodities, enfrenta uma fase de mudanças profundas em sua estrutura econômica e política. Sob a liderança do recém-eleito presidente Javier Milei, o país busca reformas ambiciosas para impulsionar a iniciativa privada e promover o desenvolvimento industrial e comercial.
Em termos de exportação, a Argentina mantém uma posição de destaque global, sendo o terceiro maior detentor de reservas conhecidas de lítio, atrás apenas de Austrália e Chile. Além disso, o país se destaca como o terceiro maior exportador mundial de soja, o quinto em carne bovina e milho, e participa ativamente do comércio internacional com diversos produtos agrícolas. De acordo com dados recentes de 2023, as exportações argentinas têm uma forte ênfase em produtos agrícolas, representando 36% do total. Outras categorias incluem veículos e autopeças (10%) e petróleo bruto e combustíveis (5%).
O Brasil desempenha um papel crucial nas relações comerciais argentinas, solidificadas desde a formação do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) em 1991. Atualmente, o Brasil é o principal parceiro comercial da Argentina, recebendo cerca de 16% de suas exportações. Em contrapartida, a Argentina representa aproximadamente 5% das exportações brasileiras, com destaque para a soja, veículos automotivos, energia elétrica e minério de ferro. Outros parceiros comerciais argentinos incluem a União Europeia (14%), China (11%), Estados Unidos, México, Canadá (8%) e Chile (5%).
Em dezembro de 2023, a Argentina testemunhou a posse do presidente Javier Milei, cujas propostas de mudança abrangem medidas econômicas e dois grandes pacotes. O primeiro decreto, apresentado como Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), busca modificar ou revogar 366 leis, incluindo a desvalorização cambial de cerca de 50% e um pacote fiscal ousado visando redução de gastos em 5% do PIB.
O segundo pacote, apresentado como projeto de lei conhecido como “Lei Ônibus”, contempla reformas profundas no Estado, incluindo a eliminação das eleições primárias, mudanças no âmbito penal e mais desregulamentação econômica. Destaca-se o fim das cotas para compras no exterior e um amplo programa de privatizações, envolvendo empresas como Aerolíneas Argentinas, YPF, Correo Argentino e Banco de la Nación Argentina.
As reformas propostas visam promover a iniciativa privada, desenvolver a indústria e comércio e reduzir a intervenção estatal desnecessária. Embora o impacto exato dessas mudanças seja incerto, é plausível que a Argentina se torne mais competitiva e eficiente, atraindo investimento estrangeiro e criando oportunidades de emprego.
No contexto das relações comerciais com o Brasil, as perspectivas indicam que uma Argentina economicamente mais estável pode resultar em benefícios mútuos. A abertura econômica argentina pode impulsionar as exportações brasileiras, especialmente se a estabilidade econômica for alcançada a médio prazo.
É importante notar que, apesar de serem grandes exportadores de carne bovina, Brasil e Argentina atuam em segmentos diferentes desse mercado, com complementaridades mais evidentes do que substituibilidade. Portanto, a cooperação e entendimento em temas de interesse comum são essenciais para garantir o sucesso das relações comerciais entre esses dois países, independentemente das posições políticas de seus governantes.
- Por Cristiano Oliveira, professor associado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e head research da Rivool Finance – plataforma em Web3 que conecta investidores globais ao mercado de crédito privado na América Latina.
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