Foto: Andre Feltes | Estadão
A Academia Brasileira de Letras (ABL) apresentou ao público uma nova ferramenta de interação: um avatar digital de Machado de Assis, criado em parceria com a empresa Euvatar Storyliving. Esta versão virtual do renomado escritor brasileiro utiliza inteligência artificial para responder perguntas e interagir com os visitantes durante as visitas guiadas ao prédio da instituição. O objetivo principal por trás dessa iniciativa é modernizar a ABL e atrair um público mais jovem para a literatura.
O avatar de Machado de Assis foi desenvolvido ao longo de mais de três meses, utilizando como base as obras literárias do autor e os estudos realizados dentro da própria academia. Segundo informações divulgadas durante o evento de lançamento, o avatar incorpora não apenas o estilo literário e a personalidade do escritor, mas também seus traços físicos. No entanto, há debates em torno da representação étnico-racial do avatar, especialmente considerando as origens africanas do próprio Machado de Assis.
Durante o lançamento, o presidente da ABL, Merval Pereira, enfatizou a importância dessa iniciativa para a modernização da academia e para a promoção da leitura. Ele destacou que o dispositivo foi concebido para proporcionar uma experiência mais interativa e atrativa para os visitantes, especialmente para o público mais jovem, que pode não estar tão familiarizado com a obra de Machado de Assis.
Apesar das tentativas de fidelidade à imagem e à personalidade do escritor, algumas questões levantadas pelo avatar de Machado de Assis suscitam debates. Por exemplo, em relação à identidade étnico-racial do escritor, há discussões sobre a representação do avatar, que apresenta uma pele mais clara e rosada, contrastando com as origens afrodescendentes de Machado de Assis.
Além disso, o avatar responde a questões sobre temas controversos presentes na obra do autor, como a abordagem da escravidão. Embora reconheça a ausência proeminente desse tema em suas obras, o avatar destaca que a herança africana e a identidade negra permeiam sutilmente sua produção literária, refletindo as lutas enfrentadas pela comunidade afrodescendente na época em que viveu.
Outro ponto de debate é a ambiguidade deixada por Machado de Assis em relação à fidelidade da personagem Capitu, em “Dom Casmurro”. O avatar do escritor mantém essa ambiguidade, afirmando que a dúvida sobre a suposta traição de Capitu é proposital, convidando o leitor a refletir sobre a natureza humana e as relações interpessoais.
Em suma, o avatar de Machado de Assis representa uma tentativa da ABL de modernizar suas práticas e atrair um público mais diversificado para a literatura brasileira. No entanto, questões como a representação étnico-racial do escritor e a abordagem de temas sensíveis em sua obra continuam a gerar debates e reflexões sobre a relevância de sua obra no contexto contemporâneo.
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