Em busca do equilíbrio: conheça os melhores países para conciliar vida e carreira

Alcançar um equilíbrio satisfatório entre vida pessoal e profissional é uma busca fundamental para indivíduos em todo o mundo. Entender as práticas de trabalho de diferentes países é crucial para quem considera uma mudança internacional. Nesse contexto, a empresa de tecnologia de recursos humanos Remote publicou o Índice do Equilíbrio Global entre a Vida e o Trabalho de 2023, fornecendo uma análise detalhada das políticas e práticas de trabalho em várias nações.

Este índice aborda uma ampla gama de fatores, desde licença-maternidade remunerada até políticas de férias anuais e benefícios de saúde. Combinado com os dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que oferece informações sobre horas de trabalho e tempo dedicado ao lazer em diferentes países, esses relatórios fornecem uma visão abrangente do equilíbrio entre vida pessoal e profissional ao redor do mundo.

No entanto, é importante notar que os rankings da Remote e da OCDE nem sempre coincidem. Por exemplo, enquanto a Remote classifica a Nova Zelândia como líder em equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, a OCDE pode ter uma classificação diferente para o mesmo país, levando em consideração diferentes métricas e metodologias de avaliação.

Considerando esses relatórios abrangentes, é possível identificar os países que se destacam por oferecer um ambiente de trabalho mais equilibrado.

Ranking da RH Remote:

Nova Zelândia

A Nova Zelândia emerge como líder no ranking da Remote, destacando-se por sua abordagem progressista em relação ao equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Com uma impressionante licença-maternidade remunerada de 26 semanas, salário mínimo relativamente alto e 32 dias de férias anuais, o país oferece benefícios substanciais para seus trabalhadores. No entanto, mais do que políticas específicas, é a cultura geral do país que contribui para um ambiente de trabalho mais relaxado, como destaca Erin Parry, uma canadense que se mudou para a Nova Zelândia em busca dessa atmosfera mais equilibrada.

Parry compartilha sua experiência ao comparar a mentalidade canadense, caracterizada por uma abordagem intensa em relação ao trabalho, com a cultura neozelandesa mais relaxada. Essa mudança cultural foi decisiva para sua decisão de se estabelecer no país em 2015, pois encontrou uma correspondência significativa entre suas expectativas e a realidade vivida na Nova Zelândia. No entanto, apesar das vantagens evidentes, o país não está isento de desafios.

Dados da OCDE revelam que uma parcela considerável dos profissionais neozelandeses trabalha mais de 50 horas por semana, e o tempo dedicado aos cuidados pessoais e ao lazer é um pouco menor do que a média da organização. Além disso, a falta de certos mecanismos de apoio governamental, como o seguro-desemprego, e os altos custos das creches podem representar obstáculos para alguns trabalhadores. A flexibilidade do ambiente de trabalho, embora positiva em muitos aspectos, também pode ter suas desvantagens, como a falta de resposta durante o período de férias em dezembro, conforme observado por Parry.

Apesar desses desafios, a visão cultural da Nova Zelândia em relação ao equilíbrio entre trabalho e vida pessoal permanece como um ponto forte. A priorização da família, bem-estar, recreação e viagens reflete uma mentalidade em que o trabalho é percebido como um meio para atingir um propósito maior, em vez de dominar completamente a vida dos indivíduos. Essa abordagem, embora não isenta de imperfeições, continua a atrair e a inspirar aqueles em busca de uma vida profissional mais equilibrada e satisfatória.

Espanha

A Espanha conquista o segundo lugar no índice Remote, impulsionada por seus generosos benefícios, incluindo 26 dias de férias anuais. Os dados da OCDE revelam que os trabalhadores espanhóis desfrutam de uma das maiores quantidades diárias de tempo dedicado ao lazer e aos cuidados pessoais entre os países membros da organização, atrás apenas da Itália e da França. A escritora de viagens Isabelle Kliger, residente em Barcelona desde 2010, compartilha suas observações sobre a cultura de trabalho na Espanha em comparação com seus países anteriores.

Kliger destaca a distinção cultural em relação ao trabalho na Espanha, onde o foco é menos centrado no ambiente de trabalho e mais voltado para uma abordagem equilibrada entre vida pessoal e profissional. Apesar de muitos espanhóis expressarem o sentimento de trabalhar longas horas, mudanças nos horários de trabalho ao longo dos anos refletem uma adaptação à modernização. O tradicional hábito da siesta está em declínio, levando a uma extensão das horas de trabalho no escritório, mas esforços foram feitos para estabelecer novos padrões de trabalho, como a proposta de Mariano Rajoy de encerrar o expediente às 18 horas.

Apesar dessas mudanças, os espanhóis continuam a dedicar uma quantidade significativa de tempo ao trabalho, com uma média de 37,8 horas por semana. No entanto, algumas empresas adotam práticas como a “jornada intensiva” nas sextas-feiras durante o verão, encerrando o expediente mais cedo, o que reflete uma valorização do equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Kliger destaca que essa cultura espanhola reforça a ideia de que o trabalho é um meio para desfrutar da vida, em vez de ser o centro dela.

Dinamarca

Helen Russell, autora do livro “O Ano de Viver à Moda Dinamarquesa”, oferece uma perspectiva única sobre o equilíbrio entre vida pessoal e profissional na Dinamarca, onde reside há mais de uma década. Comparando sua experiência como jornalista em Londres, onde o ritmo frenético de trabalho era a norma, ela destaca a notável diferença no estilo de vida dinamarquês, onde há uma fronteira clara entre trabalho e vida pessoal.

Na Dinamarca, o dia de trabalho tem início às 8 horas e, geralmente, os computadores são desligados às 16 horas. Esse horário é sincronizado com a necessidade de buscar as crianças na creche, criando um “horário familiar sagrado” entre as 16 e 19 horas, quando as famílias se reúnem. Essa distinção entre trabalho e lazer permite que todos, incluindo aqueles sem filhos, priorizem suas atividades de lazer e hobbies com a mesma importância que é dada aos compromissos familiares.

As avaliações da OCDE e da Remote corroboram essa cultura dinamarquesa de equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. Apenas 1% dos profissionais dinamarqueses trabalha mais de 50 horas por semana, um índice consideravelmente menor do que a média da OCDE. Além disso, os dinamarqueses desfrutam de uma generosa quantidade de tempo dedicado ao lazer e cuidados pessoais, com uma média de 15,7 horas por dia.

A Dinamarca também se destaca por seu suporte ao trabalho flexível, com o sistema Flexjobs, estabelecido desde 1998, que permite aos profissionais solicitar diferentes padrões ou horários de trabalho. Além disso, o país oferece 36 dias de férias anuais, um dos mais altos padrões entre as nações ricas, e garante que os trabalhadores recebam 100% de seus salários em caso de doença. Essas políticas e práticas refletem um compromisso genuíno com o bem-estar e a qualidade de vida dos cidadãos dinamarqueses.

França

De acordo com os dados da OCDE, os trabalhadores franceses desfrutam de uma média de 16,2 horas diárias dedicadas ao lazer e cuidados pessoais, ficando atrás apenas da Itália nesse aspecto. Além disso, na lista da Remote sobre o equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, a França se destaca ocupando o terceiro lugar, principalmente devido ao seu generoso período de férias anuais de 36 dias.

Apesar da agitação típica de uma cidade movimentada como Paris, os habitantes locais valorizam o tempo livre, conforme observado pela freelancer e empreendedora canadense Sarah Micho, residente na capital francesa desde 2021. A cultura dos cafés é emblemática desse estilo de vida, onde é comum encontrar pessoas desfrutando de momentos de relaxamento, seja entre amigos ou até mesmo sozinhas.

Embora cerca de 8% dos profissionais franceses trabalhem mais de 50 horas por semana, uma porcentagem inferior à média da OCDE, mas ainda acima de vários outros países no topo do ranking, a visão predominante é de equilíbrio, conforme observa Micho. A priorização do financiamento das artes e da cultura na França contribui para esse ambiente, oferecendo uma sensação de vida fora do trabalho mesmo nos momentos de deslocamento diário no metrô, onde exposições e eventos culturais são frequentemente anunciados. Essa cultura enraizada reforça a importância do equilíbrio entre a vida profissional e pessoal no país.

Itália

Minha experiência em Roma confirmou o charme da expressão italiana “il dolce far niente” (“a doçura de não fazer nada”). O advogado Andres Uribe-Orozco, que viveu em diversos países antes de estabelecer-se na capital italiana, concorda que os italianos são mestres no equilíbrio entre vida pessoal e trabalho, evitando a frenética busca por ocupações constantes. Os dados da OCDE respaldam essa observação, revelando que os italianos dedicam significativamente mais tempo ao lazer e aos cuidados pessoais do que a média da organização.

Apenas 3% dos italianos trabalham mais de 50 horas por semana, contrastando com a média de 10% da OCDE. Uribe-Orozco destaca que, embora haja a percepção de que os italianos não trabalham muito, a realidade é que são produtivos e eficientes, realizando suas tarefas de forma rápida para desfrutar das pausas para o café.

No entanto, há desafios a serem enfrentados na Itália, como salários médios mais baixos e taxas de desemprego mais altas em comparação com outros países da OCDE. Além disso, o país está classificado em uma posição desfavorável na lista de equilíbrio entre vida pessoal e trabalho da Remote, ocupando o 22º lugar.

A falta de uma cultura mais agitada também pode afetar a eficiência no cotidiano. Processos burocráticos, como uma ida ao correio, podem facilmente consumir uma parte significativa do dia. No entanto, essa calma italiana também pode ser encarada como uma oportunidade para desfrutar de momentos de lazer, como descobri ao aprender a apreciar o “dolce far niente”, mesmo nas situações mais simples e improváveis.

Ranking da OCDE:

  1. Itália
  2. Dinamarca
  3. Noruega
  4. Espanha
  5. Holanda
  6. França
  7. Suécia
  8. Alemanha
  9. Rússia
  10. Bélgica

A OCDE fornece uma perspectiva adicional sobre o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, com base em métricas como horas de trabalho e tempo dedicado ao lazer. Os rankings podem variar de acordo com as metodologias de avaliação e as prioridades das organizações.

Esses países não apenas oferecem políticas e benefícios sólidos relacionados ao trabalho, mas também cultivam uma cultura que valoriza o bem-estar dos indivíduos. Os relatórios da Remote e da OCDE fornecem insights valiosos para quem procura entender melhor as dinâmicas do mercado de trabalho global e buscar um ambiente que promova um equilíbrio saudável entre vida pessoal e profissional.

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